Eu ranjo meus dentes.
Me lembro, já numa memória distante de minha mãe me falando "Você range muito os dentes a noite", me lembro também da sensação que me sai até que gostosa, dos dentes se amassando entre si.
O problema é que depois de advertências e mais advertências dos diversos dentistas que conheci, meus dentes estão me cobrando a conta. O bom é que há solução antes que minhas restaurações explodam e meus dentes sumam, tenho que usar uma placa bucal, para me proteger desse hábito.
Amigos já haviam me comentado, doutores também, eu nunca fiz conta, só comecei a pensar neste assunto, quando percebi o quanto sinto as fragilidades que este costume me traz. Perguntando para a pessoa que me atendeu ontem, as causas possíveis do bruxismo que me acomete, ela foi certeira em uma resposta previsível: "Não há afirmativa definitiva sobre a razão, mas geralmente está ligada a alguma ansiedade, porém existem pessoas bem calmas que sofrem tanto com isso que perdem todos os dentes, desgastam até as próteses que passam a usar."
Sem pensar duas vezes, resolvi aceitar a oferta da Dra. Fabiana e já moldei a minha placa, olha... se existe sensação desconfortável no mundo, uma das concorrentes a pior delas, é alguém, mesmo que com boas intenções, te enfiar um molde de metal, cheio de massa de modelar na boca e pedir para você respirar calmamente até a substância endurecer.
Depois de alguma ânsia, e da sensação de ter seu maxilar descolando junto com o molde na hora de retirar, você até dá umas risadas sobre os momentos anteriores, e isso me fez pensar em mais um monte de coisas.
Quanto tempo mais eu poderia negligenciar este cuidado comigo mesmo? A vida inteira? As respostas são várias.
Porém, a minha conclusão, grande conclusão aliás foi a de que "Ninguém leva a boca do outro no dentista".
Daí, depois de todo este preâmbulo, e pensando em algumas frases que troquei hoje saquei outra coisa óbvia, estou envelhecendo e envelhecer tem suas vantagens. Traz a possibilidade de "rever (fatos) e se recriar a partir desta revisão, o que é muito bom também." Traz uma maturidade, que vai se transformando em uma certa (mesmo que ainda numa dose pequena) calma, que faz com que "(Percebamos) a importância de nos sentir bem, nos sentir melhor que éramos. (A possibilidade) de encontrar outros pontos onde se pode melhorar.
Hoje, durante todo meu dia, além de prestar atenção em vários sinais que ando percebendo sobre mim, me peguei evitando forçar o maxilar e esfregar ele, é uma sensação nova, para quem faz isso desde sabe lá quando.
E olha, vou te dizer: Sempre fui de pensar muito, mesmo que na maioria das vezes meu pensamento não me tenha me ajudado muito a resolver algumas teimosias de imediato, esta (o bruxismo) que foi algo que eu nunca fiz muita conta, me peguei brigando muito hoje para evitar.
Quantos choques assim, eu (você), vou (vai) precisar para começar a brigar com meus (seus) bruxismos? Com as coisas que me (te) corroem devagar, desde a lembrança mais antiga que eu (você) consi(e)go(gue) resgatar? Quando meus (seus) dentes {e daí poderia falar de tantas outras coisas, do meu peso, do meu colesterol, da minha carteira cheia de afetos} vão seguir esfarelando?
Eu não tenho estas respostas.
Sei que "O negócio é tomar consciência de que se range, as vezes... a gente detona os dentes sem notar."
Engraçado, acabou de tocar o verso aqui...
"Quem é mais sentimental que eu?
Eu disse e nem assim, se pôde evitar"
Hoje eu vi que dá.