Friday, January 30, 2009

Deixa mudar....

"Eu to indo embora! Foram essas as palavra que ela havia gritado ao bater a porta. Quando cheguei mais perto e encostei o ouvido para escutar, ela estava lá chorando, desesperada, pois não sabia o que esperar da nova etapa que estava começando na vida dela. Tinhamos acabado de discutir, ela, morrendo de medo por não conhecer nada, não saber quem seriam seus colegas, não saber os nomes das ruas da sua nova cidade. Eu, bom... do meu jeito sempre bem tranquilo, havia dito que era tudo uma grande bobagem... que em breve, ela sequer pensaria nessas coisas. Escutando a tristeza da pequena pensei melhor no que havia dito, não era por mal, mas também não havia sido a melhor forma de lhe explicar que tudo aquilo que ela estava passando se tratava de um momento transitório, onde tudo está bem confuso... entreabri a porta, pedi licença e sem esperar a resposta fui entrando e sentando ao seu lado, segurei sua mão, olhei bem dentro daqueles olhos pretos, que estavam marejados e brilhando... ela entendeu o recado e respiramos fundo... os dois... para se acalmar e começar uma boa conversa sobre tudo aquilo que estava acontecendo.
Perguntei logo em seguida... "você se lembra do seu primeiro dia na escola?" ... com a cabeça... sem falar nenhuma palavra, fez que sim... "então vai se lembrar que não queria ter largado a mão de sua mãe, ficou com medo ao ver tanta gente desconhecida... não entendeu por que tinha que obedecer a professora, se apavorou ... mas depois de um tempo, viu que apesar de dar um certo medo... passar todo aquele tempo fora de casa era coisa que você tirava de letra não é verdade?" ... Novamente fez que sim com a cabeça e deixou eu continuar, apertei um pouco mais a sua mão, tirei o cabelo da frente do seu rosto, e continuei... "mas também se lembra... das boas surpresas que sempre as novidades lhe trouxeram não é mesmo? Os grandes amigos, as brincadeiras, as boas notas, as risadas, os apelidos, os machucados no joelho! as broncas engraçadas, aquele lanche que até hoje você se lembra do cheiro! os professores inesquecíveis! aquela paixão... ah! NÃO ME DIGA QUE NÃO HEIN! que você não esquece de jeito nenhum! ele era o amor da sua vida naquela época!" Vi um sorriso tímido aparecendo ... "ta lembrando de tudo isso não é mesmo? E agora? qual o medo?" ... abaixou a cabeça... pensou um pouquinho... me abraçou e disse... "o meu medo? os meus medos? são de não ter mais tudo que eu tenho por aqui, de não ser mais essa que eu sou, deixar para trás todas essas coisas, que são as mais importantes da minha vida!"... " e como você as construiu querida? como foi que tudo isso apareceu para ti? não foram com pequenas mudanças? o garoto que estuda contigo há seis meses... seus amigos que fizeram aquela festa de despedida, o doce da padaria nova, que há um ano não existia... não foram todos... pequenas mudanças... que construiram o que é hoje... o seu grande mundo?" ....

Me olhou, me abraçou de novo, chorou mais um pouco... não tinha mais o que pensar... e não devia mesmo, agora era hora de deixar tudo acontecer, ir embora, para conhecer o seu próprio futuro, jamais seria algo ruim, nem sempre as coisas inevitaveis são boas, mas nesse caso, sem dúvida eram, aquele mundo, cheio de descobertas, não estava completo, ainda faltavam algumas (muitas!) lacunas a serem preenchidas, só precisava saber de uma coisa, e isso, sem dúvida o fato de ir embora ia mostrar... jamais... jamais mesmo, se perde aquilo que conquistamos, as amizades, as lembranças, os perfumes e as saudades, eles marcam, e quem gosta da gente, fica marcado da mesma forma, de um jeito que não há como se desvencilhar...

Ela iria se lembrar daquela noite, como a última em que pensou em tudo aquilo com tristeza, com aquele medo do primeiro dia de aula, que a mochila, era quase do tamanho dela...
Agora, com a noção, de que a bagagem que ela trazia de toda sua vida, não cabia em nenhuma mochila do mundo, só faltava ela saber disso... de que ... nunca mais... ela estaria só...

"Você tem noção... de que nunca mais vou esquecer de você? é mágico demais isso! "
"E você acha que não?... nunca vou esquecer... isso é muito legal mesmo..."

Sorriu... pensou em um dia... que tinha visto um "chapéu de ferro", foi lavar o rosto, e aproveitar ... o resto da sua primeira noite...


Beijo na testa, se nada tivesse mudado... como várias coisas teriam acontecido?

Wednesday, January 28, 2009

Chuva...

Está tudo tão molhado por causa da chuva, que eu queria ajudar aquela senhorazinha (que ta sempre sozinha!) de colete vermelho e saia esfarrapada, ela está toda ensopada carregando aquele carrinho cheio de bugigangas.
A chuva ta tão grande, que não adianta nem usar guarda chuva... ele certamente iria quebrar com esses "pingos de pedra", muito menos uma capa de chuva... esta chuva é daquelas que penetram por dentro dela, vão molhando toda roupa, e ai depois aquela água acumulada vai se tornando vapor e dai não se sabe mais o que fazer, tirar a capa e se molhar, ou continuar com ela e derreter lá dentro.
A chuva tão grande e passam casais apaixonados, juntos, de mãos dadas, abraçados, ele com seu tenis transbordando quando pisa e ela, mostrando os pés brancos, encharcados dentro daquele chinelo de R$ 90,00, e tem gente se espremendo no ponto de ônibus, várias pessoas, alguns sobem no banco para dar mais espaço aos outros, outros, chegam correndo e tentam arrumar um lugar para se proteger também...
Ta chovendo tanto, que tem gente que pede taxi para se esconder da enxurrada brava, esse mesmo, que ta com o jornal na mão... e antes de entrar, larga ele no chão... para entupir boca de bueiro, boca de lobo e depois, ter que pagar seus R$ 20,00 ... 30,00 para escapar da confusão com chofer particular, é uma chuva tão forte, que as vezes da medo, esquece que é só para refrescar, gente voltando do trabalho e gente indo trabalhar... ta chovendo tanto que na televisão estão contando os pontos de alagamento... um? dois? três? não da pra saber, a conta aumenta a cada instante, parece o diluvio, mas no diluvio certamente não tocou musica francesa no rádio dessas que o rapaz de barba rala e mochila preta quebrada está escutando, tem gente telefonando, gente sem se importar caminhando, logo quem sabe, o mundo todo vai saber o que está por essas áreas se passando. Em casa na hora que eu chegar, só haverão as fotos no computador para me lembrar... será? Além da roupa molhada, minha papelada estragada, e a minha noite frustrada, por que tudo que eu queria, era nessa chuvarada, ajudar aquela velha senhora de colete vermelho e saia esfarrapada... que provavelmente, vai dormir triste e encharcada...


Beijo na testa

Tuesday, January 20, 2009

Cocanha

Ah! Os olhos vermelhos!
Vermelhos do sono
Do sonho e do frio
Do frio que me traz
A lembrança sagaz
Dos banhos de rio
Do sorriso largo
Da luz da sua mão
Do belo e do tempo
Ah! Os dias tão raros
De sol extendido
De riso fluido
De tanta paixão
Do beijo roubado
Do colo deitado
Da minha e sua Vontade
Das conversas baixas
Do sussurro escondido
Do céu pervertido
Molhando o chão
Que brisa que passa
Vem cá e me faça
De novo um bufão...


Beijo na testa... "não chore por que acabou... sorria por que você viveu..."