Thursday, April 11, 2019

Naquele canto

Sexta Feira se come feijoada por aqui. É curioso como certos costumes soam estranhos quando o sangue nativo não passa na tua veia, mas fomos lá comer a feijoada. Paredes lindas, cadeiras aconchegantes, preço justo pelo bom sabor do prato.

Vem uma coca-cola, e com ela, o olhar para o lado. Delgada, cabelos que escorriam pelas bochechas brancas, passavam por detrás da orelha, alguns repousavam nos ombros delicados e apontavam para o chão.
Aquela expressão triste, por que cada vez que o garfo tocava o prato, parecia que alguma lembrança tocava a sua alma, lembranças? O que doía tanto? Observando, dava vontade de levantar, abraça-la e dizer "vai passar", qual era a preocupação que alterava aquela ordem, de uma comida tão alegre, regada com musica carioca, circundada por mesas de pessoas conversando, um pai pegava a mão de sua filha já adulta, dividiam uma cerveja. Que dor era aquela que a jogava para aquela mesinha de canto, naquela diagonal tão certa para minha sensação de dizer para ela que o susto já tinha passado, que daqui a pouco o machucado também ia parar de doer e que logo era apenas uma lembrança, aquele aviso que vem na memória, de como não fazer.
Mas as lágrimas se afogavam dentro daqueles olhos escuros, sem fazer conta se alguém notava algo, não parecia mesmo que alguém mais estava registrando aqueles movimentos, tão doces, tão doloridos, que vontade de te abraçar pequena.

Depois de um tempo você se levantou, se esquivou de um dos meus colegas que tinha ido ao banheiro, pagou a conta, saiu.

Deixou a dor naquela cadeira, e eu sinto. Como dói.


Beijo na Testa

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