Escrever um conto ou qualquer outro texto aqui não é algo simples.
Geralmente é algo que me dói, que sinto que preciso expor, para que alivie um pouco a ebulição de coisas que sinto em minha alma.
Geralmente são poemas, as vezes são contos. Nunca sou eu na primeira pessoa, é sempre algo que fala indiretamente comigo mesmo, que deveria conversar com outra pessoa, que explica como se fosse um grito.
Hoje eu estou aqui, sentado na frente deste computador, no horário de intervalo do trabalho, é o 221º texto deste espaço, são 14 anos disso tudo aqui.
Olho em volta, estou cru, os passarinhos cantam um canto que não é da minha terra, os sotaques, embora já tenham me contaminado, não são legitimamente meus, as comidas, as casas os jeitos, o DDD, nada é meu e eu me olhando, também não sei quem sou.
Há 4 anos atrás eu fiz uma escolha, me perdi totalmente nela. Acreditei que podia lidar com a distância, que podia lidar sozinho com coisas que até então eu nem sabia o que eram.
Deixei os abraços mais importantes da minha vida de lado. Me violentei a ponto de não querer mais falar com as pessoas, de não estar perto de ninguém.
Eu estou tentando de tudo. Já emagreci, estou mais forte, me visto melhor, minha casa está mais organizada. Tento ser mais amigo, tento falar mais baixo, tento ser menos de tudo que eu sei que fui errado, eu não me sinto melhor, só me sinto mais e mais assombrado por cada momento que eu desperto, abro os olhos e sinto essa dor horrível me queimar.
Eu tenho medo de tudo que pensam, por que onde procurei só me dizem "depende só de você" e eu procuro rezar a cartilha, fazer tudo para me sentir bem, só que quando já estou bem cansado, e nada de me sentir melhor, me dizem "você não fez o suficiente!".
É, talvez eu não tenha feito, mas eu não sei o que é esse todo suficiente e necessário que deve ser feito, não sei como abrir meu peito e tirar essa angustia sem me entorpecer, sem ficar estirado semi inconsciente, sentindo prazer em me ver anestesiado, dormir sem pensar, por que quando penso, perco o sono.
Vamos fazendo de conta, vou sendo hipócrita, vamos produzindo, as tarefas estão sendo feitas e parece que é isso que importa, afinal, a escolha de estar aqui foi minha, o preço dela, óbvio eu tenho que pagar. É de se esperar que um dia eu dê risada disso, é de se esperar que um dia essa angustia passe. Que eu não pense mais no retorno do rolê em Paranapiacaba com nostalgia, que eu não pense no abraço na escadaria em agosto de 2015 com a saudade que não senti naquele momento. Isso me parece que se chama aprendizado, aprendizado do rasgo que os arames farpados do tempo produzem.
Sinceramente, eu já não quero mais estar aqui, e não estou falando do aqui, desta cadeira, dos passarinhos cantando ou das coisas que tenho para fazer. Eu falo daqui de dentro, de onde dói tanto, que minha saliva fica amarga, mais amarga do que tudo que eu fiz e fui (será que sou?) para chegar nesse momento.
Eu quero paz e liberdade, quero um suspiro de tchau e um entendimento nos meus olhos.
É só isso.
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