Wednesday, November 13, 2019

É por que não encaixa

É o terceiro café do dia que eu peço.

Geralmente tomo isso ou um pouco mais no meu dia a dia no trabalho.

Estava caminhando e pensei que devia escrever sobre algo que muito se evita falar, que a gente nem sempre gosta de sentir, mas que é parte da vida, de uma forma que não dá para descolar.

Saudade

Sim, a gente vive e automaticamente está sujeito a sentir saudade.

É um sentimento tão particular, que dizem que só se expressa na língua portuguesa, que coisa mais rara não é mesmo? Um sentimento que só se explica com uma palavra específica. Vamos tentar entender...

Em inglês, poderíamos dizer "I miss you"... Quando nós tentamos usar essa expressão, conseguimos substituir aquele sentimento do peito que vem quando pensamos na palavra saudade?
Ou em espanhol, que dizemos "Te extraño"? Embora a língua dos nossos vizinhos também possa demonstrar muita paixão em suas expressões, também acredito que não é este o alcance que a palavra saudade tem.

Quando falamos de saudade, estamos falando de uma viagem a um sentimento mais profundo, de algo que fazia parte de algo que já não está mais por ai, e como não faz parte, te deixa incompleto.
Sentir saudade é um processo interessante, por que, uma vez que deixamos de sentir aquela completude de outrora, seguimos perambulando neste mundo, vendo outras coisas até que aquela parte que nos falta seja um pouco mais daquilo que nos define.

Seria possível reparar a saudade?

Sim, acredito que é possível reparar a saudade, mas somente com a peça da qual deixou de fazer parte há um tempo atrás. Existem peças que se vão, que morrem, que estragam, que viajam e nunca mais voltam e ai? Como é que se resolve isso?

É neste perambular

Sabe quando a gente caminha na rua, e no final do dia percebe que a sola de sapato já gastou um pouco, que a forma que você saiu da sua casa, já não é a mesma que você voltou?

Acontece o mesmo com a saudade, ela te faz rodar e rodar e rodar, e nisso você se desgasta que quando se depara com alguma lembrança, você já não é mais o mesmo.
Isso me faz pensar o seguinte: Se não sou mais o mesmo, como é que posso insistir em encaixar dentro de mim mesmo, um pensamento referente a uma peça que já não cabe mais em mim? Que já não encaixa perfeitamente?

E cada vez que se faz apertar, que se força para que essa peça entre, vai doer mais e mais, por que a lembrança e o espaço dela, já não combinam perfeitamente.

Seria tudo bem mais fácil se nada se desgastasse, se as peças sempre se encaixassem, se tudo que um dia foi, pudesse também ser novamente.

Mas não é assim que funciona não é mesmo?

A gente ressignifica mortes, deixa a vida que um dia existiu, aflorar em nossos sentimentos, em lugar de saudade, aquilo se torna recordação terna, amorosa e grata.

A gente ressignifica partidas, entende o distanciamento, compreende nossas missões, e em lugar de saudade, das dúvidas, honra o aprendizado, sente uma pontinha de nostalgia, olha em frente e pensa em como tornar as próximas partidas, ainda mais úteis e proveitosas. Não adianta pensar que elas deixarão de existir, vai ser assim até o final.

E é assim, o perambular lapida, é a chuva das lágrimas, é o calor dos novos abraços, é o vento dos "tchaus" que te fazem escorregar daqui para lá e de lá para cá de novo.

Volta e meia a gente se encontra com lembranças

Que as saudades não nos sejam empurradas adentro.

Que sirvam para construir outros alicerces.






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