Friday, November 05, 2021

E o melhor desta história

 E o que faremos com esta conversa?

Coloco no bolso? 

Logo esta e todas as demais não existirão, o mundo vai acabar.

Aquilo que você ia fazer amanhã, ou daqui a cinco minutos, o problema que não resolvemos.

Lembra daquela série que você está ansioso para assistir o final? Não vai dar tempo.

Tuas dívidas? Acabaram. 

Teus investimentos? Não valem mais nada.

Todos os problemas do mundo, encerrados. De maneira ideal, abrupta, imperfeita, incompleta. Encerrados.

E o que faremos com estes sentimentos todos?

Deixamos trancados no cofre?

Rapidamente te pergunto se você se lembra em onde os criou, os encontrou. Você só me diz que não sabe, que foram construídos, não há medida de tempo.

Qual sua atitude?

Liga para a sua avó? Aproveita

Dá um beijo? Aproveita

Não deixa de dizer, o que quer que seja? Aproveita

Para para contemplar? Aproveita

Diz algo com furia?  O mundo vai acabar. 

Seu sabor preferido? Lembre dele


Conectar, perdoar, enxergar, sentir, comemorar, deixar mergulhar até a entranha mais escondida de si e se deixar tocar. Talvez doa, mas entenda que logo nem essa dor vai estar.

Se der tempo, faça alguém rir, é uma das melhores sensações a se compartilhar.

No rádio toca, Quiereme mientras se pueda, que ironia. Mas por esta última fração de tempo, ainda há tempo de querer.





Monday, June 07, 2021

Padaria


 Padaria deve ser uma das maiores expressões do que é ser paulistano...


Da que costumo ir quando estou por aqui, na esquina da rua de casa, tem uma parede de vidro, dela vejo a igreja, aquela onde eu pequenininho decidi ir sozinho e que abriu um novo mundo para mim.

Na frente dela, tem uma praça. O mais louco é que esta praça funciona como rotatória, do nível do chão parece uma praça redonda, susto foi quando ao subir na torre da igreja para tocar o sino, olhei pela janela e descobri que era oval.

Caminhar por aqui sempre foi normal, automático, ia de um lado para o outro e por mais que as novidades surgissem aqui e acolá, sempre foi natural, como um corpo que cresce, como uma personalidade que vai devagar mudando.

Sempre até esta última vez, caminhei devagar e senti o gosto de estar por aqui, meus olhos lacrimejaram e minhas lembranças me contaram histórias que se impregnaram em quem eu sou, de um jeito que nem prestava mais atenção. É engraçado quando algo faz tão parte de nós.

Lembrei 

Lembrei de quando saia do portão à direita, virava a direita de novo e ia passar tardes na casa do meu amigo. Passei por lá, duas placas de vende-se a luz apagada, o piano já não tocava mais, afinal o pai morreu, a mãe saiu a irmã também. até a filhina nasceu. Onde este tempo correu tão rápido?

Lembrei quando olhei para baixo, na calçada quebrada e depois na lisinha, como foi aprender andar de bicicleta, quando minha mãe soltou o banco dela e eu fui sozinho ampliar meu horizonte, será que foi a primeira vez? Não sei.

Sei que olhei para a casa anexa a do vizinho, lembrei que ensinei o Arquimedes a andar de "bike" também, na caloi ceci rosa da minha irmã. Neste chão, ensinei pela primeira vez.

Adoro a forma que as coisas se passam por aqui, como me relaciono com os lugares, como as dores,os sabores, as lembranças e os temores se cruzam.

Eu podia lembrar do MASP, das livrarias gigantes, do aquário, que é um dos mais bonitos que eu já vi.

Lembro até.

Mas lembro que tirei uma foto da rocha que tem debaixo deste museu para minha recuperação de educação artística (sim eu consegui), dos puffs que disputei no chão da cultura, de atravessar a Paulista de ponta a ponta, vendo o Sol laranja escurecer.

Eu senti vontade de tanta coisa, senti vontade de entender por que isso é tão eu e eu sou tão isso, que já nem me encaixo tanto assim. Quis passar na porta da minha antiga escola, passei na porta da escola que dei aula usando camiseta roxa com a estampa do Playmobil.

É uma sensação diferente, quando você sabe o nome das ruas, até as que não são tão perto de você, que você sabe como chegar, quando você conhece o sistema de transporte e pode até ajudar outra pessoa a se localizar.

Gosto de lembrar das chuvas que tomei, dos bares que almoçava, dos parmegianas e das tubaínas. Gosto (hoje) de lembrar dos ônibus que corri atrás para pegar e a sensação engraçada de capturar um embarque, chegar ofegante e me jogar num banco vazio no fim da noite ao voltar para casa.

Como era bom, tinha um sanduiche embrulhado no papel alumínio me esperando.

São 9:15, o Uber chega, queria ficar um pouco mais com "minha velhinha", mas ele me leva embora de novo. Erra um pouco o caminho e eu sei disso, pois errou sobre uma rota que está escrita em mim. 

Depois de vacilar, ele se acha, faz um retorno, me deixa no lugar, que me faz cair na real:

Sempre há algo para aprender.


No balcão de informações eu pergunto.


-"Onde eu embarco no We Mobi?"

- Posso ver sua passagem?

!- Ah! é Plataforma 26, descobri :) Obrigado :D

Encontro um banco vazio, nestes tempos é o mais importante.


Abro o computador e escrevo isso, com a cabeça no que vem a seguir:

"A gente nunca tem muita certeza para onde vai, mas que bom que sabe tão dentro do coração de onde veio."

Encharca de novo... jajá eu estou de volta.

Wednesday, May 26, 2021

Expresso

 A lua está cheia

Brilhante

Amarela

Coberta de nuvens

Eu estou cheio

opaco

Coberto de nuvens

E está tocando uma musica alta

E está gritando alto

Dentro e fora

Rasga

Range

Repete

Antes de repetir

Enrijece

Em cinco minutos

Mais uma

A campainha chama

Tenho que ir

Estão me esperando na "sala de espera"...

Wednesday, May 19, 2021

Nada

 O frio irrita. Por mais que ele pareça charmoso, quando você sente ele cortando sua carne e fazendo arder seus músculos, ele irrita.

Mastigo isso caminhando pelo apartamento, procurando um par de meias para calçar, sentir os pés gelados deveria ser proibido.

Do outro lado da janela, filetes de Sol inofensivos me fazem inveja, talvez mais tarde eu vá pescar alguns, agora tenho que começar o dia.

Já esvaziei uma caneca grande de café, são algumas durante o dia, entre uma reunião e outra que no final, também são algumas ou mais que isso. Penso bastante na noite de ontem, não estou feliz com ela, desci a rua, bebi, gastei dinheiro, comi, isso tudo me fez acordar tarde.

Sinto que tenho que escrever alguma coisa, perguntar para as pessoas como é o acordar delas também, qual é a escolha produtiva que elas gostariam de fazer e o que as impede de romper com o que as prende a cama, sinto um incômodo, uma tensão que pega as pernas, que pega a nuca. 

Terminei dois livros agora cedo, abandonar hábitos, reavivar outros, desenvolver alguns é sempre uma batalha. O que te entorpece?

Em alguns minutos começo a trabalhar, la vou eu encontrar os mesmos problemas que todo mundo têm, "oquecomeroquevestiroquequereroquedeixarparatrás" tudo isso assim, encavalado, sem espaço, por isso é bom se cuidar, prestar atenção. 

Olho para as linhas acima, percebo que não gosto de nada, queria algo mais inspirado, não gosto de ser tão analítico quando quero por algo para fora, prefiro que flua, mas hoje estou olhando letra a letra, pensando em como desenhar com as frases a razão de minhas sobrancelhas estarem tensas e em forma de "V", todos têm seus dias, acabo de pensar.

O que te causa saudade?

Faz tempo que você não vê alguém que gosta? Que não vai a algum lugar preferido? Que não decola, sente frio na barriga?

Algo que você fazia antes, te faz sentir culpa agora?

Encontrar alguém que gosta, quando sai a um lugar preferido, quando pensa em comprar uma passagem de ônibus ? Isso hoje te taz aflição? Culpa?

Quantas.... quantas vezes você mudou algo na sua casa, no seu ambiente, na sua alma nos últimos tempos? 

Quantas vezes você precisou respirar fundo e te pedir paciência?

(Meu corpo tensiona, o vento é gelado, a água estava assim)


A cada dia, a prepotência da ilusão rui um pouco mais, vamos nos percebendo inutilmente sortudos, pela concessão da natureza, que está nos avisando - dá um tempinho ai... se recolhe um pouco -

Vamos emulando esperanças, projetando encontros que não irão acontecer, sorrindo de verdade e sentindo o olho lacrimejar também.

Começamos

Hoje, provavelmente vou almoçar a mesma coisa que ontem.


Sunday, March 21, 2021

Vem sendo assim

Despertar, fazer o café

Fazer o que há de se fazer

Depois sujar, "desujar"

Refazer

Se acomodar 

Tapar o rosto

Talvez sair preocupado

Em nada encostar

Encher as sacolas, voltar

Carregar

Abrir o armário, geladeira

Guardar

Sujar, limpar

Derrubar tudo

Se ajeitar

Sentir doer

Ir para a cama e esperar

Despertar....