Sunday, December 15, 2024

Capacetes batendo

 Se tem uma coisa que eu sou feliz de ter podido experimentar nesta vida é dar uma volta de moto num domingo a tarde. As ruas vazias e o costumeiro ar fresco desse dia são uma combinação perfeita.

Vou dizer aqui, que quando mais novo, tinha medo, não passava pela minha cabeça deslizar pelas ruas em cima de duas rodas em tão alta velocidade. Mas ainda bem que as coisas mudam quando o tempo passa não é mesmo? Os medos se transformam em impulso, em motivos que te fazem feliz. Eis então, que nesta tarde fui fazer isso: Dar um passeio.


Aqui por onde vivo tem um shopping no meio da estrada, resolvi ir até lá, não para comprar algo, mas para ter um ponto no mapa que eu soubesse que tinha que chegar, o caminho até la dura uns 40 minutos, uma estrada bem asfaltada, poucos carros e a oportunidade de acelerar, acelerar bastante e sentir esse ar que falei logo no começo passar bem rápido pelo seu corpo, é uma sensação única, te faz entrar em um transe ao mesmo tempo que te coloca em um estado de atenção para cada freada ou mudança de pista diante de ti. Durante o caminho fui pensando em muita coisa e acho que este é um outro fato que vale a pena destacar, pois ao passo que parte do seu cérebro está integrado com a máquina e está atento aos demais motoristas, outra parte fica livre para deixar as ideias fluirem, parece que as montanhas e a grama verde em volta, ou aqueles postos onde têm de tudo vão alimentando suas lembranças e vontades, você vai conversando consigo de uma forma muito especial, terapêutica.

Passado o tempo previsto e a aventura de ter atravessado num trecho de obras todo parado entre os caminhões, cheguei no lugar, caminhei, dei uma, duas, acho que três voltas por todo o espaço, entre todas as coisas que vi por lá, a que mais me chamou atenção foi um poodle que me parecia familiar.

Na hora de voltar, já tinha na cabeça que ia fazer um caminho diferente, peguei parte do mesmo caminho, mas entrei em um retorno de um caminho que já conheço por lá, sabia que ia encontrar uma rota onde as árvores se fecham sobre a pista o cheiro fica fresco e o ar mais gelado, meu estômago queimava um pouco, era uma boa ideia passear por lá.

Acelerei deliciosamente naquele caminho vazio, que cruzou com uma ou duas igrejinhas, um cavalo, e um ou outro motorista local. Estou contando isso, da mesma forma que me aconteceu, uma coisa levando a outra e depois de passar na frente de um bar suspeito, no qual há uns 10 ou 11 anos atrás comprei cerveja com alguns amigos, resolvi que meu passeio ia ter mais uma parada, segui por mais alguns quilômetros e logo estava de volta a cidade grande, e então foi fácil resolver aquele meu próximo destino: Frango com Polenta.

Frango com polenta talvez seja a comida que mais lembra a minha infância, Frango com Polenta (assim maiúsculo mesmo) com certeza é a comida que mais representa esta cidade. Encostei no restaurante mais conhecido, que agora têm um container para pratos expressos e pedi um risoto com asinhas de frango fritas e claro, as crocantes polentas. Sentei e esperei, fiquei olhando aquela decoração de natal, bonita, mas que todo mundo quando a vê se encontra com suas questões. Vi um rapaz comendo a mesma coisa que eu pedi, vi uma mulher também sozinha comendo uns outros pedaços de frango de dentro da caixinha amarela, vi até uma camiseta que me fez dar risada e pensar como o mundo pode ser tão pequeno. 

Pingou chuva, secou, ouvi uma menina falar para a mãe que íamos ter um arco-íris.

Estava tocando Oceans (Seafret) no meu fone, "We hide our emotions under the surface and try to pretend", um pai passou com a filha empoleirada nos ombros, dobrou a garotinha para ela passar por debaixo do toldo do restaurante, uma gota extra pingou nessa hora e eu lembrei da minha fome, a musica já tinha se repetido o tanto possível para completar meia hora sem meu Frango com Polenta.

Mas como nessas voltas de domingo a tarde, além do ar ser fresco é dia de lembrar de Deus, já nas minhas últimas mordidas uma voz me chama, pelo tom eu já podia imaginar, mas tudo bem, gosto mesmo de conversar assim de surpresa.

- Meniiino, moço bonito, você com essa cara de rico, vai ajudar a tia e vai multiplicar, vai ficar mais rico

- Ô! Haha, ai tia... se você soubesse....

- Ah! Mas têm cara de rico sim, ajuda a tia? Faz um pix, preciso fazer uma cirurgia, (e me mostrava as costas com o polegar, como se estivesse se abraçando) comprar comida... ajuda a tia? Deus vai multiplicar pra você

- Pede outra coisa pra mim ao invés de pedir para eu enriquecer? 

E ela pediu

Conversamos mais um pouquinho, perguntei de novo o que ela ia fazer com o dinheiro, meio que brincando com ela e atendi o pedido da Dona Isabel, Isabel Cristina.

Feliz(es) com a ajuda do momento, me abençoou mais um pouco, me abraçou beijou minha cabeça e meu ombro, seguiu embora e eu virei minha última gota de coca-cola.


O passeio estava no final, montei na Nmax, coloquei o capacete, para sair do estacionamento precisei dar uma passadinha por cima da calçada.


Do outro lado da rua, na varanda de outro restaurante, um casal estava dando um abraço apaixonado e um beijo bem típico destas tardes, como capacetes que se encostam quando tem alguém na garupa.


Bem típico destas voltas.





  

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